sábado, 17 de setembro de 2011

Um futuro cor de rosa para Rosinha

Uma cadela de aproximadamente 8 meses foi encontrada no meio do lixo, em um terreno abandonado, no dia 3 de maio, em Porto Alegre. O animal teve o corpo pintado de rosa, está com desnutrição e com a saúde debilitada. 
 
A cadelinha, que recebeu o apelido de Rosinha, pesava 2,8 quilos, quando deveria pesar 6 quilos. Estava desnutrida e frágil, e por estar tão debilitada não recebeu as vacinas necessárias. 

Foto encontrada aqui

A notícia acima, veiculada por vários meios de comunicação durante as duas primeiras semanas de maio, aparentemente teve um final feliz: resgatada e cuidada, Rosinha ganhou peso, conseguiu se recuperar e possivelmente foi adotada. 

O que deve ter acontecido é que seus donos acharam bonitinha a cadelinha rosa da novela "Morde e Assopra", da Globo, e devem tê-la pintado com alguma tinta inapropriada. O animal adoeceu, começou a dar trabalho e por isso foi abandonado.  Curioso é que a página de notícias da emissora veiculou a notícia sem fazer menção ao animal pintado de rosa em sua própria programação. Junto à notícia, porém, deveria ter sido incluído algum material educativo para que outros donos não repitam esse ato de barbárie com seus pets

Que Rosinha tenha o resto de seus dias cor de rosa, em mãos de donos mais conscientes e responsáveis. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Feliz cumpleaños, Mafalda

Ariel Palacios, correspondente de O Estado de São Paulo em Buenos Aires, menciona aqui o aniversário "teórico" de Mafalda, criada em 15 de março de 1962, para uma campanha publicitária, muito antes de se tornar personagem de tirinhas (o que, segundo Joaquín Lavado, ou Quino, seu criador, teria acontecido em 29 de setembro de 1964 - data que os argentinos adotaram como "verdadeiro" aniversário de Mafalda).


Buenos Aires, a cidade dos monumentos, não poderia deixar a menina mais famosa do mundo sem seu monumento, e desde 2009 podemos ver Mafalda sentada em um banco, a poucos metros do edifício onde vivia seu criador.

Mafalda em seu banco, ao lado de Quino, seu criador.

Pobre coruja

Um grande amigo dizia que nossa vida deveria se pautar pela seguinte pergunta: "Se eu fizer isto, o que acontece?" 

Foi o que não pensou o panamenho Luis Moreno, durante a partida entre Deportivo Pereira e Junior de Barranquilla, pelo Campeonato Colombiano, no último dia 27 de fevereiro. Uma coruja, mascote do Junior de Barranquilla e que vivia no estádio, estava no gramado, e recebeu uma bolada. Logo em seguida, Luis Moreno chutou a indefesa ave, ainda atordoada pela bolada, o que provocou a revolta de jogadores, torcedores e entidades de proteção a animais. O jogador afirma que não queria chutar a coruja, mas fazer que ela voasse e deixasse o campo. Não é o que se vê aqui. Resultado: a pobre coruja morreu. E o jogador se diz "chocado" com a morte. 

Triste fim para a ave símbolo da deusa grega, Atena, a deusa da guerra, da sabedoria, das artes e da justiça.  
 

domingo, 6 de março de 2011

Hasta luego, Mial

Estas são as últimas palavras que Ernesto "Che" Guevara dirige a seu amigo, Alberto Granado, no filme Diarios de motocicleta (2004), uma gracinha de filme, exibido hoje pela TV, que retrata a viagem que Ernesto  e seu amigo fizeram pela América do Sul, viagem esta que apresentou a Ernesto as disparidades sociais de nosso continente e que o motivou a deixar a profissão de médico e pegar armas onde houvesse uma revolução. 

O ator mexicano Gael García Bernal retrata "el Che", e o argentino Rodrigo de la Serna interpreta Alberto na viagem que se iniciou sobre a moto La Poderosa, que, de tanto sofrer avarias mecânicas, acabou fazendo que os amigos tivessem que concluir a viagem por outros meios. 

Terminado o filme, viemos até o Google para investigar os preços dos livros em que se baseou o filme: Notas de viaje, de Ernesto Guevara, e  Con el Che por Latinoamérica, de Alberto Granado, e entre uma e outra livraria virtual, descobrimos que ontem, 5 de março, morreu Alberto, aos 88 anos, em Cuba. Como se diz em espanhol, vaya coincidencia.

Hasta luego, Mial.  Agora você e Che devem estar aprontando alguma por aí, montados em La Poderosa

Ernesto e Alberto, e la Poderosa.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Tristeza entre os cinéfilos

Para os cinéfilos, uma notícia desoladora: o Cine Belas Artes fechará as portas no próximo dia 27 de janeiro. 

O complexo já ameaçou fechar em março de 2010, quando perdeu o patrocínio do Banco HSBC. Amigos do Belas Artes fizeram abaixo-assinados e  campanhas (entre elas, esta, muito simpática, em que 16 restaurantes da cidade se mobilizaram para ajudar a manter o cinema), criaram um blog e saíram em busca de um novo patrocinador.


O novo patrocinador apareceu em novembro, mas a desagradável surpresa veio quando o proprietário do imóvel foi procurado para a renovação do contrato de aluguel. O contrato foi cancelado, e o local passará a abrigar uma loja. 

Um dos mais tradicionais cinemas de São Paulo, o Cine Belas Artes existe desde 1943, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista.  Originalmente chamado Cine Trianon, recebeu o novo nome em 1967.


Desde a divulgação da notícia do fechamento, amigos e frequentadores do cinema se mobilizam para impedir o fim do Belas Artes. Uma manifestação está agendada para o dia 15 de janeiro, e já há um abaixo-assinado aqui, na internet. 

Foi organizada uma programação especial que terá lugar entre os dias 14 e 27 de janeiro. Serão duas mostras com sessões diárias, uma às 18:30, com filmes que fizeram sucesso ao longo da história do cinema, e outra às 21:00, com clássicos diversos. Os filmes que estão em cartaz continuarão a ser exibidos. 

Também na noite de 14 de janeiro acontecerá o último Noitão do Belas Artes, a sessão especial de filmes durante toda a madrugada. 

Os proprietários do Belas Artes pretendem abrir um novo cinema, provavelmente não com o mesmo nome, mas “será mantido o mesmo espírito do Belas Artes no que diz respeito ao perfil da programação”. O patrocinador está disposto a dar continuidade ao projeto, mas ainda não há local nem data para início de operação do novo cinema. 

Este é o segundo cinema famoso por exibir filmes alternativos a ser fechado na cidade desde o ano passado. Em setembro de 2010 foi a vez do Cine Gemini, que funcionou durante 35 anos na Avenida Paulista. 

Uma grande pena. Uma grande perda. E não é "sinal dos tempos", porque o Belas Artes tem um público cativo e diferenciado. Seria bom alguma atitude do governo, para impedir que aconteça com essas salas o que já aconteceu com tantos outros cinemas e teatros.  

Celebridade Vira-lata

Doze cães sem raça definida foram escolhidos para ilustrar o calendário Celebridade Vira-Lata de 2011. 


É uma iniciativa muito legal que, além de arrecadar fundos para recolher animais das ruas e encaminhá-los para a adoração, permitirá a realização de mutirões de castração de cães e gatos. Veja mais detalhes aqui e, se puder, compre o seu calendário e ajude  um animalzinho que não teve ainda a sorte de ter um lar.

Punto e basta

A novela Passione entra na sua última semana, com o personagem Totó ressuscitado, para alívio dos que, como nós aqui em casa, não nos conformávamos com a morte do protagonista e já adivinhávamos que o italiano (que na verdade é brasileiro) não havia morrido. 

Nós não somos terrivelmente viciadas, mas gostamos de uma boa novela de época ou que apresente alguma cultura estrangeira, como foi o caso de Caminho das Índias e Passione. 

As novelas de época têm a vantagem de nos poupar das irritantes inserções comerciais "disfarçadas" no enredo, como quando os personagens entram em uma agência de determinado banco,  ou vão comprar roupas em determinada loja,  ou usam perfume ou hidratante de determinada marca, ou vão ao cinema para ver determinado filme (sempre  protagonizado pelos atores da emissora). 

Universo curioso, o das novelas. E limitado. Todos se conhecem, de uma maneira ou de outra. No caso de Passione, Silvio de Abreu reduziu a Itália e o Brasil a praticamente uma única família, e a coisa chegou a tal ponto que o personagem Berilo era casado simultaneamente na Itália, com a filha de Totó, e no Brasil, com a irmã de Totó.  Os personagens que não pertencem à família Gouveia trabalharam, em algum momento, na metalúrgica da família ou na sua mansão, como se não houvesse outra empresa ou outra mansão em toda a cidade de São Paulo.

Passione apresentou os ingredientes clássicos de uma telenovela: ricos, pobres, crimes, traições, segredos, vinganças, gente muito boa, gente muito má. Creio que nunca houve na história deste país tanta gente falando "com licença" para sair de um ambiente! Nunca houve tanta gente ouvindo o que não devia por uma porta entreaberta. 

Também houve algumas incoerências, como costuma acontecer nos folhetins, como quando o personagem Totó, recém-chegado da Itália e que nunca havia estado em São Paulo, começa a andar sem rumo pela cidade, começando na Avenida Paulista, passando pela Nove de Julho, chegando à estação da Luz, e finalmente indo parar na zona leste, na casa da personagem Felícia, onde havia estado uma única vez... e tudo isto a pé!!! Figúrati!!!

"Quem matou Saulo Gouveia?" não chegou a ser uma comoção nacional como "Quem matou Odete Roitman?", da novela Vale Tudo, de 1988, mas possivelmente, como costuma acontecer, só saberemos o nome do assassino no último capítulo. A internet já informa a entrada de uma nova personagem, no apagar das luzes, para que o protagonista não acabe a novela sem par amoroso (onde já se viu?). 

No apagar das luzes, porém, quando tudo deveria ser mais "caprichado" para o gran finale, acontecem alguns descuidos, e  vemos os personagens italianos esquecendo o sotaque e falando frases inteiras em português perfeito. 

Apesar de tudo, foi um bom entretenimento, uma boa mescla de suspense, drama e comédia.  Com a fogosa Jéssica, Gabriela Duarte deixou definitivamente de ser a "filhinha da namoradinha do Brasil". Com o vilão Fred, Gianecchini deixou de ser apenas um homem bonito.   Irene Ravache merece todos os prêmios possíveis por sua divertidíssima Clô. Mariana Ximenes criou uma Schifosa realmente detestável. Há que se elogiar, também, o cuidado do autor em criar um personagem para o excelente Leonardo Villar, que andava desaparecido.  E enquanto aguardamos para conhecer o assassino de Saulo Gouveia, esperamos que, pelo menos na novela, os criminosos realmente vão para a cadeia e paguem pelos seus crimes.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ano novo, livro em branco

Ano novo, vida nova, diz o ditado... Que nada, a vida continua a mesma, e nós também continuamos os mesmos. Entra ano, sai ano, as mesmas promessas: emagrecer, comer coisas mais saudáveis, manter o contato com os amigos, trabalhar menos e divertir-se mais... Fazer as promessas é fácil, difícil é conservar o entusiasmo e a determinação de cumpri-las, em meio à correria cotidiana. 

Por outro lado, um ano novo tem aquela expectativa dos tempos de escola, a ansiedade por iniciar um novo ano letivo, a expectativa para saber se os amigos antigos continuariam conosco, para fazer novas amizades, para encontrar novos professores e enfrentar novos desafios. 

Disse alguém que um ano novo é como um livro em branco. Cada página tem todo o potencial do mundo. Se, a princípio, podemos sentir alguma incerteza, diante das páginas em branco, logo descobrimos que não há razão para ter medo delas. Na verdade, é emocionante esperar para ver o que escreveremos em cada página, o que cada página virada nos trará. O que escreveremos em nosso próprio livro, o que escreveremos nos livros de nossos amigos, o que eles escreverão no nosso.


Neste início de ano chuvoso aqui em Sampa, desejo que brilhe o sol na sua vida, que os seus sonhos fiquem mais próximos, que sobrem motivos para sorrisos, que a esperança não saia de férias. E que as suas páginas em branco se encham de felicidade.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011 vem aí

Aproveito uma pausa nas minhas brincadeiras com os presentinhos que Papai Noel e algumas vizinhas me deixaram, para desejar aos meus leitores 

FELIZ 2011 !!!

Um ano novo cheio de alegrias, paz, saúde e prosperidade. Diz a canção global que "todos os nossos sonhos serão verdade". Este ano, para variar, vamos acreditar? 


E a gente se vê no ano que vem!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O outro lado de uma amizade

Uma coisa que sempre nos impressiona é a fidelidade e amizade incondicional de um cão por seu dono. Vemos exemplos diários disso. Há histórias de cães que atacam assaltantes armados ou se colocam diante de uma arma para defender seus donos.  Há histórias fantásticas de cães que ficam junto ao túmulo de seus donos, e não devemos nos esquecer da história (real) de Hachiko, o cão que durante quase dez anos foi diariamente à estação ferroviária para esperar seu dono (que já havia morrido) - é a história recentemente filmada com Richard Gere, Sempre ao seu lado (Hachiko: A Dog's Story, 2009), refilmagem de um filme japonês de 1987 (leia aqui a história). 

Estátua de Hachiko, estação ferroviária, Shibuya, Japão

Mas este post aborda o outro lado da moeda: a amizade de um dono por seu cão. Outro dia, quando passeávamos pela rua do Mackenzie, vimos uma cena que já havíamos visto antes - a diferença é que desta vez tínhamos o celular para fotografar a cena: um sem-teto que dormia na calçada, acompanhado de seus dois cães, que tinham coleiras e guias e pareciam bem cuidados.

Rua Maria Antônia (10/11/2010)

No nosso bairro já vimos muitos desses casos: pessoas que não abandonam seus cães, mesmo que não tenham onde morar, e repartem com seus animais o pouco alimento que conseguem. Homens que preferem continuar pelas ruas com seus cães a ir dormir em albergues que não aceitam animais. Catadores de papel e outros materiais que levam seus cachorros amarrados a suas carroças, para acompanhá-los em sua jornada diária. Certa vez, vimos um desses catadores com sua carroça parada junto a uma pracinha, e ao lado da carroça estava sua cadela, dando de mamar aos filhotinhos. Quando os filhotinhos acabaram de mamar, o homem os colocou dentro de uma caixa de papelão, colocou a caixa em sua carroça, deu água à cadela e seguiu adiante, com a cadela atrás dele. Quando minha dona lhe perguntou por que havia trazido a cadela com os filhotinhos, ele respondeu simplesmente "ela queria vir trabalhar comigo, para trazê-la tive que trazer os filhotes também". 

As fotos abaixo (encontradas aqui) exemplificam esse tipo de relacionamento:





Infelizmente, há outro tipo de histórias. Histórias de pessoas que abandonam seus animais em estradas ou matagais - por vários motivos - porque o animal cresceu demais, porque late demais... pessoas que abandonam seus cães e gatos porque não podem levá-los em suas viagens de férias... pessoas que maltratam seus animais... neste mesmo blog, registrei aqui uma história recente de maus tratos, felizmente com final feliz. 

Em um programa chamado Distrito Animal (Animal Precinct, do canal pago Animal Planet), são exibidos casos de maus tratos nos Estados Unidos: pessoas que se mudam e não levam seus cães, deixando-os para que morram de fome... animais que são deixados fora de casa quando está nevando... e muitos outros casos... nesse programa, muitas vezes os animaizinhos morrem, mas em muitas outras ocasiões os policiais chegam a tempo e conseguem salvar o animal, que depois é adotado por outra família. Além disso, comprovados os maus tratos, os donos são presos e têm que pagar pesadas multas.  

Mesmo em olhinhos caninos espevitados, curiosos e arteiros, como os meus, é possível detectar um amor incondicional, uma fidelidade inabalável, não importando quantas broncas levemos. E conosco nunca há mau tempo: sempre estamos dispostos a um passeio ou uma brincadeira, a ir buscar a bolinha pela enésima vez ou a nos fingir de mortos. Tudo para fazer surgir um sorriso no rosto de nossos donos. Que bom que há alguns humanos que conseguem perceber isso, e retribuir a nossa dedicação! Que bom que há alguns que entendem que, para nós, um colo sempre é mais confortável que uma caminha! 

domingo, 7 de novembro de 2010

Racismo no Sítio do Picapau Amarelo

"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta".  Esta frase, atribuida a Einstein, retrata o que aconteceu esta semana neste nosso país: quiseram banir das escolas o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, com a alegação de que a obra tem conteúdo racista. 

Livro 'Caçadas de Pedrinho', de Monteiro Lobato, distribuído a escolas públicas no programa Biblioteca na Escola

O Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão ligado ao Ministério da Educação, publicou um parecer a respeito do livro de Monteiro Lobato, que faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e é distribuída em escolas públicas de todo o país. 

O parecer considera que alguns trechos do livro, em que se faz menção à Tia Nastácia, contêm preconceito racial. O Conselho Nacional de Educação chegou a recomendar que o livro não mais fosse adotado nas escolas públicas. 

O ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araújo, concordou com a crítica: “As expressões que o livro contém são expressões de um conteúdo fortemente preconceituoso e que precisam de tratamento explicativo na sala de aula, para que não se ofenda a autoestima das crianças e dos leitores”.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, teve que intervir: “Décadas se passaram. Expressões que não eram consideradas ofensivas, hoje são. Mas, em se tratando de Monteiro Lobato, de um clássico brasileiro da literatura infantil, nós só temos que contextualizar, advertir e orientar sobretudo o professor sobre como lidar com esse tipo de matéria em sala de aula”.

Os nossos fiéis leitores estarão pensando que esse é um assunto para o outro blog. Talvez tenham razão. Mas o nosso objetivo, ao incluí-lo aqui, mais que criticar o parecer e quem o defende, é exaltar as qualidades educativas da obra de Monteiro Lobato. 

O bom senso parece ter prevalecido.  A partir de agora, o livro conterá uma explicação sobre o contexto em que foi escrito. Algo parecido com o que uma edição já traz sobre a caça à onça. A editora deixa claro que a aventura aconteceu em uma época em que a espécie não estava ameaçada de extinção, nem os animais silvestres eram protegidos pelo Ibama.

Quem leu os livros de Monteiro Lobato sabe que eles apresentam o retrato de uma época. Não nos esqueçamos de que Monteiro Lobato nasceu seis anos antes da abolição da escravatura, em que a sociedade era diferente da nossa. É importante ter isso em mente. Não devemos começar agora a apagar páginas de nossa história ou queimar livros. Apesar de uma ou outra expressão pejorativa, Dona Benta, Narizinho, Pedrinho e até mesmo a irreverente Emília têm grande respeito e amor por Tia Nastácia. E enquanto  o leitor se diverte com as reinações de Narizinho e as maluquices de Emília, sem se dar conta aprende valores importantes com a sabedoria e o carinho de Dona Benta e Tia Nastácia.

Minha dona leu várias vezes cada um dos livros da coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Além de lhe despertar a imaginação, esses livros lhe ensinaram gramática, aritmética, história, geografia, e lhe apresentaram uma das suas grandes paixões, a mitologia grega.  

Ela é do tempo da primeira adaptação dos livros para a TV,  ainda em preto e branco, e com a melhor Emília de todos os tempos, Lúcia Lambertini. Talvez tenha sido a mais fiel das versões, adaptada por Tatiana Belinki, e apresentada por Júlio Gouveia, que "fechava o livro" no fim de cada episódio. 

sábado, 23 de outubro de 2010

Um milagre no século XXI

Já há dias temos vontade de escrever sobre o resgate dos mineiros do Chile. Eu e minha dona ficamos muito impressionadas com esse acontecimento, desde o acidente na mina, de 5 de agosto até o resgate, em 13 de outubro. Os primeiros dias foram terríveis, cheios de dúvidas e negativismo, ninguém mais acreditando ser possível encontrar algum mineiro vivo, até o dia 22 de agosto, em que uma sonda trouxe à superfície o bilhete escrito em vermelho: 


Esse foi o primeiro milagre, em nossa opinião. Que os 33 mineiros tivessem sobrevivido durante 17 dias sem ver o sol, sem nenhum contato com o mundo, sem saber o que estava sendo feito para encontrá-los, e praticamente sem ter o que comer. Impressionante que ninguém, faminto e desesperado, tivesse roubado a pouca comida que havia. 

Os primeiros prognósticos da equipe de resgate foram desalentadores: o resgate seria feito pouco antes do Natal, devido às dificuldades inerentes à instabilidade do terreno, ao desconhecimento da geologia do local e ao tempo necessário para a abertura de um túnel.  

Mas aí entra em ação o que consideramos o segundo milagre: o da tecnologia e dos humanos habilidosos o suficiente para empregá-la.  A tecnologia que permite que água, comida e remédios sejam enviados aos mineiros por meio de tubos perfurados na rocha. A tecnologia que permite que eles vejam suas famílias, conversem com elas.  A tecnologia que permite a construção de uma cápsula para o resgate. E, finalmente, a tecnologia que antecipa a data do resgate, de fins de dezembro para 13 de outubro. 

O mundo parou nesse dia. Centenas de emissoras de TV do mundo inteiro deixaram de transmitir seus programas usuais e exibiram um dia inteiro de imagens geradas no Chile, o resgate dos 33 mineiros e o retorno à superfície dos socorristas que haviam descido ao interior da mina. Os chilenos acompanharam o resgate em telões colocados nas cidades e comemoraram o resgate como se houvessem vencido uma Copa do Mundo.  

Elogiável desde o início foi a postura do presidente do Chile, Sebastián Piñera. Interrompeu uma visita à Colômbia e retornou ao Chile, onde esteve praticamente acampado junto à mina, com os familiares dos mineiros soterrados. Tomou as providências necessárias, incluindo demissões em altos cargos, para agilizar o processo do resgate. E no dia 13 de outubro esteve ali, presente, para o melhor ou para o pior. Graças à bem sucedida operação de resgate, pôde receber e abraçar os mineiros e os socorristas.

Houve quem criticasse essas atitudes, considerando-as apenas um meio para aumentar a popularidade do presidente. No entanto, o que a televisão do Chile mostrou para o mundo foi um líder que não deixou o local da batalha, que apoiou as famílias e o seu país nessa hora tão difícil, e que se emocionou com o resgate e com a sobrevivência dos 33 mineiros. Um líder que assumiu o governo poucos dias depois de um tremendo terremoto e reconstruiu o país. Um presidente que mostrou o que é liderança, solidariedade e patriotismo no ano em que se comemoram 200 anos de independência do Chile. Não podem ter sido fins eleitoreiros que provocaram esse comportamento de Sebastián Piñera, uma vez que a constituição do Chile não permite a reeleição. 

Comparemos rapidamente: no início do ano, houve terríveis inundações em São Paulo, um bairro ficou dez dias alagado, e nenhuma autoridade apareceu para dar apoio à população nem anunciar alguma medida para solucionar o problema - não compareceu  nem o prefeito de São Paulo, e muito menos o presidente. Houve problemas semelhantes em Angra dos Reis, em São Luís do Paraitinga, e no estado de Alagoas, e novamente se observou a ausência do presidente. 

Mas o espaço para críticas aos nossos políticos é o outro blog. O que queremos registrar aqui é o milagre que nossa geração pôde testemunhar. E também as linhas tortas com que Deus escreve. Na mesma semana em que se deu o resgate no Chile, houve acidentes em minas na Colômbia e na China. Muitos mortos. Por que morreram aqueles, e não morreram estes?

Entre os mineiros soterrados na mina do Chile, estava um único boliviano, que havia sido empregado apenas cinco dias antes. Outro mineiro devia estar de folga no dia 5 de agosto, mas o chefe lhe prometeu pagamento de horas extras e por isso ele estava trabalhando quando houve o desmoronamento. Acaso? Coincidência? Destino? 

A cápsula usada no resgate, hoje em dia exposta em Santiago, diante do Palacio de La Moneda, foi batizada de Fênix, o nome do pássaro mitológico grego, que depois de morto renascia de suas próprias cinzas. Esses 33 homens renasceram. Suas vidas, no entanto, nunca mais serão as mesmas. O acidente lhes trouxe uma notoriedade que nunca mais os abandonará. Já ganharam presentes, casas, vão correr mundo. Livros serão escritos sobre eles, e sem dúvida em breve haverá algum filme sobre eles.  Nem tudo serão flores. Já há brigas pelos direitos autorais da frase "Estamos bien en el refugio, los 33". Por outro lado, também se espera a revisão da legislação referente ao trabalho nas minas. Muito ainda se discutirá sobre as condições de segurança.  Nada disso, no entanto, reduz a emoção ou obscurece o brilho desse milagre em pleno século XXI, em que, como dizia Cher em Feitiço da Lua (Moonstruck, 1987), "There ain't supposed to be miracles any more!"  

Enhorabuena, Chile!

Cãozinho dono de casa

Chegou à nossa caixa postal um link de um vídeo em que um cãozinho muito engraçadinho (e muito bem adestrado, diga-se de passagem...) "arruma a casa", realizando uma série de atividades, desde pegar o jornal à porta até colocar o lixo no cesto e levar o seu próprio pratinho de comida à lava-louça. Vale a pena conferir o vídeo aqui.

Já aviso, no entanto: serão inúteis quaisquer esforços de me fazer trabalhar como esse meu coleguinha de quatro patas. Meu lance é um passeio diário, e depois sombra e água fresca. 


Aqui você poderá ver outro vídeo legal, em que vários cães, também muito bem adestrados, se divertem na praia.

sábado, 16 de outubro de 2010

Amor antigo

O casamento, no dia 25 de setembro, parou a pequena Senhora de Oliveira, município mineiro de apenas seis mil habitantes, a 180 quilômetros de Belo Horizonte. Os noivos: Laudelina Isabela, de 91 anos e José Pedro Henrique Paiva, de 84 anos, que foi levado ao altar pela mãe, de 104 anos.  Somadas as proles de ambos, são 91 pessoas, entre filhos, netos, bisnetos e trinetos. 

A inesperada idade dos noivos não é o único detalhe a chamar a atenção na história do casal. Além de trocar alianças numa fase da vida em que pouca gente faz planos para o futuro, os noivos são primos e se conhecem desde a infância. Cresceram juntos, mas cada um tomou seu rumo. Ela foi morar em Belo Horizonte com o primeiro marido. Ficou viúva em 1999. José Pedro permaneceu na cidadezinha e no ano passado, depois de mais de 60 anos de casado, também ficou viúvo. 

Depois de apenas dois meses de namoro, estavam no altar.  “Não perco tempo”, diz o noivo. O casamento se realizou no dia 25 de setembro, às 11 horas, na Igreja Nossa Senhora de Oliveira. O mesmo cenário em que ambos se casaram pela primeira vez. A festa, para mais de 600 convidados, foi a maior da história da cidade. 

Mais detalhes  você encontrará aqui. Gostamos muito desta história, muito bacana, o início de uma nova vida quando a maioria já pendurou as chuteiras e desistiu de ser feliz!

La Stupenda

Morreu esta semana (dia 10) em sua casa, na Suíça, Dame Joan Sutherland, uma das maiores vozes da segunda metade do século XX, aos 83 anos.  Conhecida como “La Stupenda”, conseguiu a façanha de fazer fama, a partir dos anos 1960, nos papéis que, pouco antes, eram dominados por Maria Callas: Norma, Lakmé, Lucia, Sonnambula. Começou os estudos, na Austrália, como mezzo; mudou-se para Londres nos anos 1950 quando começou a treinar a voz para os papéis de soprano dramático. Conheceu, porém, o maestro Richard Bonynge (com quem veio a se casar) e ele, entusiasta do bel canto, em que o tamanho da voz não é tão importante quanto a agilidade, a fez passar para esse repertório.  No palco e em suas gravações, Sutherland teve como grande parceiro o tenor italiano Luciano Pavarotti. Gravaram Lucia di Lammermoor, Rigoletto, La Traviata, Tosca, Norma – algumas delas, mais de uma vez. Foi Pavarotti, aliás, quem definiu Joan Sutherland como “a voz do século”; foi, também, ao lado de Pavarotti que ela se despediu do palco, em uma apresentação de Die Fledermaus no Covent Garden, em 31 de dezembro de 1989 - veja (e ouça) aqui.