domingo, 7 de novembro de 2010

Racismo no Sítio do Picapau Amarelo

"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta".  Esta frase, atribuida a Einstein, retrata o que aconteceu esta semana neste nosso país: quiseram banir das escolas o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, com a alegação de que a obra tem conteúdo racista. 

Livro 'Caçadas de Pedrinho', de Monteiro Lobato, distribuído a escolas públicas no programa Biblioteca na Escola

O Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão ligado ao Ministério da Educação, publicou um parecer a respeito do livro de Monteiro Lobato, que faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e é distribuída em escolas públicas de todo o país. 

O parecer considera que alguns trechos do livro, em que se faz menção à Tia Nastácia, contêm preconceito racial. O Conselho Nacional de Educação chegou a recomendar que o livro não mais fosse adotado nas escolas públicas. 

O ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araújo, concordou com a crítica: “As expressões que o livro contém são expressões de um conteúdo fortemente preconceituoso e que precisam de tratamento explicativo na sala de aula, para que não se ofenda a autoestima das crianças e dos leitores”.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, teve que intervir: “Décadas se passaram. Expressões que não eram consideradas ofensivas, hoje são. Mas, em se tratando de Monteiro Lobato, de um clássico brasileiro da literatura infantil, nós só temos que contextualizar, advertir e orientar sobretudo o professor sobre como lidar com esse tipo de matéria em sala de aula”.

Os nossos fiéis leitores estarão pensando que esse é um assunto para o outro blog. Talvez tenham razão. Mas o nosso objetivo, ao incluí-lo aqui, mais que criticar o parecer e quem o defende, é exaltar as qualidades educativas da obra de Monteiro Lobato. 

O bom senso parece ter prevalecido.  A partir de agora, o livro conterá uma explicação sobre o contexto em que foi escrito. Algo parecido com o que uma edição já traz sobre a caça à onça. A editora deixa claro que a aventura aconteceu em uma época em que a espécie não estava ameaçada de extinção, nem os animais silvestres eram protegidos pelo Ibama.

Quem leu os livros de Monteiro Lobato sabe que eles apresentam o retrato de uma época. Não nos esqueçamos de que Monteiro Lobato nasceu seis anos antes da abolição da escravatura, em que a sociedade era diferente da nossa. É importante ter isso em mente. Não devemos começar agora a apagar páginas de nossa história ou queimar livros. Apesar de uma ou outra expressão pejorativa, Dona Benta, Narizinho, Pedrinho e até mesmo a irreverente Emília têm grande respeito e amor por Tia Nastácia. E enquanto  o leitor se diverte com as reinações de Narizinho e as maluquices de Emília, sem se dar conta aprende valores importantes com a sabedoria e o carinho de Dona Benta e Tia Nastácia.

Minha dona leu várias vezes cada um dos livros da coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Além de lhe despertar a imaginação, esses livros lhe ensinaram gramática, aritmética, história, geografia, e lhe apresentaram uma das suas grandes paixões, a mitologia grega.  

Ela é do tempo da primeira adaptação dos livros para a TV,  ainda em preto e branco, e com a melhor Emília de todos os tempos, Lúcia Lambertini. Talvez tenha sido a mais fiel das versões, adaptada por Tatiana Belinki, e apresentada por Júlio Gouveia, que "fechava o livro" no fim de cada episódio. 

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