terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pretinho

Um pássaro preto. 

Não conseguimos lembrar com exatidão quando foi que ele chegou, mas pelo menos durante 18 anos, cantou e encantou, nos deu muitas alegrias e foi um grande companheiro. 

Pela manhã, dava uns piadinhos agudos, que nós chamávamos de piados de uma nota só, pedindo que tirássemos o pano com que o cobríamos à noite, como se estivesse dizendo, Está na hora de levantar! Estou atrasado para curtir o dia!  Enquanto tirávamos o pano, já começava a cantar,  o canto agudo e característico dos pássaros pretos, e já chegava bem perto da grade da gaiola, baixando a cabeça, para receber nosso carinho. 

E como gostava de um carinho. Fechava os olhos e chegava a cochilar enquanto passávamos o dedo pela sua nuca! 

Fazia o maior sucesso com as pessoas que vinham nos visitar... elas não resistiam e iam coçar a cabecinha do pássaro, que adorava isso, é claro... 

Cantava e nos cumprimentava cada vez que chegávamos à cozinha, e também sempre que tocava o telefone. 

Muito manso, se deixava pegar na mão, fechava os olhinhos, como se estivesse gostando... mas se escapasse, começava a voar como louco e dava o maior trabalho para voltar à gaiola!

Quando veio morar em Sampa, passou a cantar em resposta aos pássaros que ouvia cantando no parque, do outro lado da rua. 

Adorava um banho! Tomava banho sempre por volta de 14 horas, mesmo nos dias mais frios. Se não puséssemos a banheirinha, começava a andar pelo chão da gaiola, indo de um lado a outro. Era o "sinal" de que queria tomar banho. Nos dias mais quentes, tinha lá o seu jeitinho de pedir que enchêssemos novamente a banheirinha de água, e tomava outro banho!

Aliás, a banheirinha era a única coisa "estranha" que permitia na gaiola. Detestava qualquer outra coisa que puséssemos, um comedouro diferente, um balancinho, e não sossegava até que tirássemos o corpo estranho da "sua" gaiola.

Depois, começou a ficar velhinho. Percebemos que já não enxergava bem (depois descobrimos que era catarata), e que tinha dificuldade para passar de um poleiro a outro. Com isso, deixou de aproveitar a imensa gaiola, em que podia até bater as asas e voar um pouquinho, ao ir de um lado a outro.

Pouco a pouco, foi deixando de cantar. Deixou de nos cumprimentar quando chegávamos à cozinha. Deixou de avisar quando tocava o telefone. Deixou de ficar nervoso quando eu passava perto da gaiola.

Há três meses, teve uma infecção respiratória, da qual nunca se recuperou. Foi ao veterinário, onde foi pesado pela primeira vez na vida, em uma balança de ourives: 67 gramas! 

Passou a morar na sala. Gradualmente, deixou de subir para os poleiros, não tinha mais forças. Colocamos dois bebedouros e dois comedouros, no chão da gaiola, e nessas condições a avezinha ainda resistiu bravamente durante três meses.

Lutou corajosamente, mas esta noite se foi. Foi cantar em outra freguesia. Esperamos que esteja no "céu" dos pássaros.



Mesmo doentinho, nunca deixou de chegar perto da grade da gaiola e baixar a cabecinha para receber carinhos. 

Durante anos, foi chamado apenas Preto. Houve uma época em que decidimos chamá-lo  Danilo. Mas esse nome não "pegou", e continuou sendo simplesmente Preto,  ou Pretinho, até que uma amiga querida disse que era um ultraje, se eu, Kika Cristina, tenho dois nomes, ele também precisava ter dois, e foi assim que passou a se chamar Preto Augusto.  E realmente era: augusto, nobre, imponente, altivo.

Na natureza, teria resistido menos, uma vez que já não tinha mais forças para voar e buscar alimento. Talvez tivesse sofrido menos, e por menos tempo.

Pretinho se foi. Ficou a saudade, o silêncio. E um enorme vazio na casa e em nossos corações. 

3 comentários:

  1. Eu tive o privilégio de conhecer este nobre pássaro, tive o imenso prazer de lhe fazer cosquinhas na cabeçinha e vê-lo demonstrar o quanto estava gostando.
    Kika, ele foi um passarinho de sorte, teve muito amor da sua dona e retribuiu tanto carinho à altura.
    Com certeza está no céu dos pássaros!
    Adeus, amiguinho, quem sabe um dia eu vá te rever, hein...
    Beijos pra voce, Kika e pra sua dona, além dos beijos, um abraço bem apertado e demorado, para reconfortá-la...

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  2. Minha Kika querida! seu companheiro se foi, mas enquanto passou por aqui,foi muito feliz.
    passei a mão sobre sua cabeça e era uma delicia êle virar o pescoço e fechar os olhos para receber o dengo! Descanse em paz o nosso amiguinho. Bjos da tia Lu

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  3. Bem Kika, sua dona me conhece bem,li a homengem e estou aos prantos.
    Ele era muito querido, sempre rodeado de pessoas para curtí-lo, prinipalmente as mulheres, ele se exibia mesmo, na hora do banho era uma festa!
    Lembro que eu e a Dio ficamos um tempão fazendo carinho nele.
    Agora ele vai pro descanso merecido e nós vamos ficar com as lembranças de tantos momentos mágicos.
    Descanse Pretinho,querido!
    E voce Kika Cristina, cuide bem de sua dona, que é tão amorosa.
    Beijos pra duas.

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